Friday, October 27, 2006

Cem doses de pudor

Pare com isso agora. Nada nunca será perfeito. Sua falsa visão do mundo lhe impede de ver o que é real?! Pare de descontar todas as brigas, frustrações e decepções no cigarro; você quer se matar sua vadia louca? O efeito é momentâneo, sinta toda dor que você poder.
Ela não sentirá falta quando você não aparecer. Ela não ficará de luto quando você morrer. Aceite o que é inevitável e largue dessa de não transar com outros caras. Ela não lhe quer mais. Sua garotinha está em outra e não é mais o seu telefone que toca quando ela tem novidades. O triste fim de uma história que seria bonita para um livro ou até mesmo seriado. Ela não ama você.
Porque você anda com tanta pressa se já sabe que não chegará a lugar algum? A monotonia dessa sua vidinha faz com que corra para casa todo dia, na esperança de um telefonema que não acontece, com uma oportunidade que não existe para fugir de uma vida que não é real. Pare e tome uma cerveja no boteco da esquina; talvez você foda com o vizinho que você nunca viu e será a melhor transa da sua vida, ou a pior.
Pego um ônibus sem avisar meus pais e vou para alguma cidade maior, que não se resuma em quatro bares, duas sorveterias e a pista de skate. Eles devem pensar que eu estou na casa da Renata, mas ela está transando com dois garotos, no banco de um cinema que nunca lotou. Eles não sabem que vão morrer nas mãos de um assaltante no caminho para casa. Promiscuidade e morte. Se fosse AIDS seria normal. Já é fato: fui viajar ou quase morri numa suruba. Qual das realidades terá um castigo menor?
Acabou. Mais tarde do que deveria e antes do que você pensava. Acabou. Segure minha mão que eu te levo até o banheiro. Temos menos tempo do que eu gostaria, por isso esqueça os joguinhos. Acabou. O seu namorado nem precisa ficar sabendo. Ele gosta de dividir a cama com duas piranhas adolescentes? Todos gostam, já virou até moda, leve dois e pague um. Só pensei que talvez ele fosse ciumento, mas pouco importa para mim. Só não fale tão alto, pois alguém pode ouvir.
Caminhamos em círculo por tantas horas que esqueci do choro. Você era o melhor amigo do garoto que dizia me amar enquanto não beijava a namorada e eu estava tão drogada, carente e ingênua que acreditei que você só iria me consolar. No outro dia descobri seu nome e escrevi na agenda pra lembrar. Quantas noites assim já tivemos? Bebida, sexo e amnésia. Quantas doses você precisa pra tirar a blusa?

Monday, October 23, 2006

Não me pergunte o que não quer saber


Você não sabe que eu não quero ser feliz ao seu lado. Você não sabe o quão difícil é para eu dizer isso á você. Nunca vou conseguir dizer a outro as palavras que machucaram a mim mesma. São difíceis as tardes em que penso em tudo como se o fim fosse amanhã. É tão tarde e tão cedo que os pássaros já cantam anunciando o fim e o começo. A cachorra chora por eu não a pegar no colo; nem sempre damos atenção à quem merece, você não sabia?
Você se torna o garoto perfeito para mim quando passa a me rejeitar. Não adiantou em nada você escrever textos, poesias e músicas. Finja que me despreza, mas não torne isso real. Em meio a tudo vejo na pracinha escura um grupo de meninas; elas experimentam drogas pela primeira vez. Não sabem, mas o destino de algumas foi traçado à primeira tragada. Suicídio, overdose, prisão. Até que ponto você vai sem se tornar junkie? Não adianta fugir, o primeiro passo foi dado, o resto é conseqüência.
Sinto saudades do tempo em que sentávamos no banheiro de uma rodoviária velha, fumando algum cigarro que você roubou da carteira do seu pai. Marcávamos o corpo com lâminas enferrujadas, roubadas do apontados de meu irmão. Podia elas nos transmitirem tétano? Morreríamos sozinhas. Ninguém iria se importar.
A verdade é que toda essa agonia melancólica é causada pelo simples fato de ele não agir. É muito velho para seu pai levantar todo sábado e ir lhe buscar de pijama, em um lugar aonde você não vai, nas esquinas perdidas de uma cidade que não se encontra no mapa. Ele é grande demais para contínuos interrogatórios e exigências. Não há nada à perder e mesmo assim ele tem medo. Estátuas são mais felizes. Ele era um garoto de quinze, com todos os problemas que irá achar bobagem quando fizer dezesseis; talvez estivesse perdido em algum beco, onde os ratos têm nojo de entrar. Se esconder pra quê, se ninguém vai lhe procurar? Seria triste, mas já é rotina.
A festa já vai começar. Escuto risadas, mas eles não estão felizes. São vinte e três horas. O telefone toca, o menino se jogou do sexto andar, não deixou carta dizendo o porquê; pode ser que ele não soubesse. O motivo é cada vez menor. Ele tinha apenas dezesseis e se esperasse até os dezessete seus motivos já seriam besteira.

Saturday, October 14, 2006

Quando o fim é o começo

Não me pergunte aonde escondo todo esse sentimentalismo de que faço uso ao escrever. Me faço de forte para que você pense que sou um bom apoio nos momentos de crise. Quando você chorar eu só preciso dizer que tudo passa e você concordará que sou uma menina experiente e cool o bastante para ficar do seu lado.
Mas nada mais é como antes. Um dia diferente esconde mistérios que não podemos decifrar. Descobrimos a razão de tudo tarde demais para pôr as coisas em seu devido lugar. Você nunca conseguiu me fazer feliz por inteiro; desculpa se eu te iludi e cuspi na sua cara quando seus amigos estavam olhando, é que eu nunca fui muito boa em terminar relacionamentos que nunca deveriam ter começado.
Uma semana depois eu descobri que a menina dos meus olhos é você. Beijo-a e no outro dia só preciso me lembrar disso para me sentir feliz. O que seria da raça humana sem a memória?
E é tão difícil para mim revirar velhas histórias, velhas fotos e velhas palavras. Nada restou. Dói saber que senti tudo sozinha. Alguma música lhe remete à mim? Como é possível que me machuques tanto sem sequer abrir a boca? Você me adora e confia tanto em mim que faz com que eu me sinta muito mal.
Ontem caiu um temporal, mas você me acalmou e eu consegui dormir.