Wednesday, January 31, 2007

Valiun pra mim

Três retratos de uma mesma face

A primeira:
Mamãe é a melhor do mundo. Eu acordo duas horas da tarde passadas, depois de ficar a noite inteira futricando no computador e olhando filmes idiotas na televisão e ela me pergunta se quero almoçar, respondo que sim. Ela vai com toda a calma da melhor mãe do planeta, retira a polenta do dia passado de dentro do forno e faz elas sem gordura pra mim não engordar, prepara um rápido suco de mamão com laranja e me diz pra comer com calma que se não faz mal. Os meus amigos fazem janta na minha casa e ela não os deixa lavar a louça. Eu peço se posso sair e ela já está com a chave do carro pra me levar pra qualquer lugar, eu e meus amigos também. Esses dias eu queimei minha saia com cigarro, minha mãe não quer que eu fume, mas mesmo assim ela levou a saia na costureira pra costurar uma etiqueta em cima e o papai não ver. Mamãe é a melhor.
A segunda:
Mamãe é uma mala. Ela grita comigo se eu pego a cachorra no colo porque não quer me ver com a roupa cheia de pêlos. Ela odeia como eu me visto e faz de tudo pra tentar me modelar. Ela diz que esses barzinhos não são lugar pra mim. Quando ela descobriu que eu andava de skate ela me deixou de castigo. Quando eu comprei uma guitarra ela disse que eu estava ficando louca, que isso era coisa de garoto, e que não iria deixar eu tocar. Mamãe acha que pra eu conseguir um emprego eu tenho que tirar esses piercings da cara e virar gente, como ela mesmo diz. Mamãe não quer que eu saia de casa porque ela pensa que eu sou dela. Queria ter outra mãe.
A terceira:
Mamãe mal existe para mim. Eu acordo depois de uma noite daquelas e ela nunca está em casa. Eu ligo pro celular dela e ela não atende. Ela diz pra mim sair um pouco de dentro de casa porque ela não aguenta mais eu de um lado pro outro. Ela nunca vai nas reuniões do colégio e não sabe nem o nome das minhas professoras. Quando eu estou triste e chorando ela nunca percebe. Ela me joga aos quatro ventos. Um dia ela me disse que preferia não ter filhos, porque até agora eles só haviam lhe dado problemas. Mamãe finge que eu não existo.

Tuesday, January 30, 2007

Espalhafatosa

Ela chega e grita para os mecânicos ouvirem:
Que linda casa, meu deus do céu.
Caminha à passos largos
Se espalha numa cadeira e berra.
Ela fala de educação,
gritando
Ela diz que é preciso de respeito,
senão eu lhe dou duas bochas na cara,
e pronto.
Ela é de família,
mas só no sobrenome.
Ninguém lhe disse que jacaré
no céu não entra.
A mulher é desonrada pelos muçulmanos,
e eles gritam pelas redondezas:
Lá vem a espalhafatosa! Alah!

Férias em pequenas doses para diminuir o tédio.

Ontem a noite, nada para se fazer, totalmente entediada, ninguém no MSN, nenhum scrap no orkut, nenhum comentário no myspace, nada de o sono chegar. Então pensei: por que recebemos dois meses de férias direto? É! Por que estudamos dez meses direto e recebemos dois meses de férias direto? Todos sabem que as coisas em exagero enjoam. Então eu proponho um novo esquema! Pelo menor tédio nas férias e maior rendimento dos alunos. Teremos uma semana de férias por mês! Simples não?
Bom, deixa eu desenvolver. Tudo começaria em Janeiro. Teríamos a 1ª semana livre. Na 2ª semana seria PROIBIDO por lei federal haver qualquer tipo de prova! É claro que pra não termos que passar a nossa semana de folga estudando! Na 3ª e 4ª semanas ficaria tudo normal, provas, trabalhos, qualquer coisa. E assim por todos os meses! Não seria perfeito? Uma semana por mês para jogar sinuca até tarde, varar a madrugada olhando filme, dormir a manhã toda, beber e ainda por cima, fora tudo isso, voltaríamos renovados para encarar mais três semanas de aula!

Como é que alguém nunca pensou nisso antes? O problema dessas férias enormes é que ficamos com saudade da escola, mas depois de três semanas queremos férias, então, por quê não tornar isso real?
Proponho um abaixo-assinado. Pelos direitos dos estudantes de estudarem com dedicação e poderem descansar sem se entregar ao tédio!


aluna dedicada estudando em suas três
semanas mensais de aula

Monday, January 29, 2007

1

eu desenho em preto e branco que é pra combinar mais fácil
eu desenho um chafariz para os passaros se refrescarem
eu pinto toda uma tela que é pra você me elogiar
eu rabisco o seu nome quando o banheiro está embaçado
e ao redor há sempre um coração

todas as cigarras do mundo voam sobre minha cabeça
na piscina os filhos mais novos brincam depois de jantar
no fogão tem água quente fervendo
e das bolhas saem figuras coloridas
e das figuras uma história pra eu ti contar

o esmalte descascado mostra que ela já não se importa
se é cedo ou tarde depende do ponto de vista
nada é tão ruim como parece
nem tão bom quanto quando vimos na primeira vez
as folhas mortas no quintal sempre dão mais trabalho à faxineira

Diários velhos. Parte I

Reler diários antigos, eis um dos meus passatempos para disfarçar o tédio preferido. Comecei esses dias a ler o de 2003. Nossa, eu tinha 13 anos, e é incrível como eu era tão.. tão.. idiota? burra? nova demais? não sei. Eu simplesmente não me vejo mais me apaixonando por uns seis garotos em menos de meio ano. Aliás, garotos? Just boys? Não me vejo querendo bater em todas as garotas que cruzassem meu caminho. 2003, o ano em que eu estava no auge da minha bulimia! E se não me engano o último ano em que fui magra, afinal, lá consta que eu não tinha peito, e eu nunca fui uma gorda despeitada (ao menos isso!). Foi o ano em que eu mais recortei modelos secalhas em revistas e colei por tudo no meu quarto para ver se me motivava. (Hoje em dia eu escrevo ESTUDAR pelo meu quarto, certas coisas não mudam, só se transformam.) Também foi o ano em que eu ficava três, quatro dias sem comer e depois me acabava em bolo de chocolate. Gód!
Foi também o último ano em que fiz dança e vôlei. Também foi quando minha mãe tentou me proibir de andar de skate. (Hoje ela dá graças a Deus quando eu digo que vou pra pista). Eu estava na sétima série? Nossa, já fazem quatro anos. Sabe, pra quem tem apenas dezessete isso pode parecer bastante. Eu estudava no colégio aonde construi minha desavida. Eu ficava de castigo porque não queria comer! Uma coisa não muda e nunca vai mudar: o fato da minha família ser muito contraditória! Meu pai NUNCA ia olhar um jogo de vôlei meu, e agora diz que eu não devia ter parado de jogar! Minha mãe não quis me pôr em nenhum curso de modelo e agora reclama o tempo todo da minha falta de postura. Poxa vida! Não é de se estranhar que eu seja assim destrambelhada, meio coelho cego fugindo de ninguém sabe o quê, correndo pra ninguém sabe onde, procurando algo que ninguém conhece.
No ano de 2003 eu chorei no aniversário surpresa de uma amiga que acabára de perder a mãe. Isso me deixou chocacada! Não me lembrava mais de como eu era mesquinha e fútil, pensando que tudo iria acabar se o menino 1342 que eu gostava ficasse com a minha amiga peitudona. Também não sei como demorei tanto para saber que um garoto de 14 anos tava pouco se lixando pras magrelas, sardentas e sem nenhum conteúdo (exterior, se me entendes).
Fico aqui, na esperança de que em 2011 eu amadureça o suficiente para achar ridículo o que escrevo em 2007.

Sunday, January 28, 2007

God save the world

Maldito seja esse mundo desgraçado da porra que eu insisto em amar. Malditas sejam todas as noites que eu passo sem dormir pensando em algo que os outros gostem de ler, me dói não saber. Desgraçado é aquele que insiste em ver as coisas pelo lado bom, eu tento, não consigo, fodeu. Infelizmente nunca é literalmente. Mas para que existem os parques? Caminho, caminho, caminho. Minha morada é muito longe de qualquer lugar. Menos da universidade e da casa do meu primo. Ex-casa, porque fazem uns pares de anos que ele só vai lá umas duas vezes ao ano. É sempre bom ver as pessoas que moram longe, é bom ter alguém que não enjoa, uma pessoa que não é inoportuna. Odeio aquele tipo efusivo, não quero nenhum babaca idiota pra me consolar, eu NÃO preciso! Tá legal assim? Eu posso desenhar, rabisco sua cara e sua casa e não sou mais aquela pessoa legal que você achou que fosse. Foi a cara de menininha? Ou a minha camiseta do Bikini Kill? Você conhece algo mais chato do que o ser humano? Me apresente, ou melhor, não apresente não. Me poupe dessa sua descoberta!
Me diga algo que me faça pensar a noite toda. MUNDO, por favor, tem alguém aí? Me dê algo de bom! Pode ser até uma daquelas paixões que se têm aos dez anos, aquelas que ti fazem passar semanas sem pensar em outra coisa. Mas me tire dessa rotina maldita que me deixa quase sem os cabelos. Eu não posso viver sempre no mesmo chove e não molha. Blábláblá.
Calei a boca e me fui!

Apaguem as luzes!

Não existe essa coisa de não poder, se eu quero eu faço e não ligo pros comentários do dia seguinte, ou ao menos finjo não ligar. Dance dance dance. Esse algo a mais que sempre faz as noites acabarem em dia, que mata os pássaros e ninguém entende. Eu escrevo pra mim mesma, eu escrevo pra dentro, uma escritora de língua presa. É impossível não pensar que as coisas poderiam ter sido melhores. E a cabeça dói, o estômago ronca, e o coração eu já nem sei. Mas eu preciso estudar, eu preciso ser uma bixa, eu sei que posso recuperar todo o ensino médio jogado fora. Eu preciso emagrecer, faz tantos anos que eu não vejo meus ossos da barriga e eles eram tão bonitos, eu já quis ser modelo, mas quando eu podia, não agora, agora que eu virei essa adolescente cabeça de tico frustrada com todas as coisas que faz ou deixa de fazer. E eu preciso, eu preciso, não sei. As luzes são ligadas quando as pessoas tomam coragem demais.

Tuesday, January 23, 2007

Cu é sem acento

Eu encontro as respostas pra tudo o que não vejo entrando dentro. Dentro da casca, do escuro, da sujeira, da desordem. Rascunhos de uma vida que não existe são jogados ao redor de uma cama que não é quente. Eu vomitava as imperfeições e me sentia mais feliz, dois dedos na goela e uma esperança no estômago renascia. A eterna corda bamba que lhe faz cair no fundo do poço. Fazia tempo demais que eu não sentia essa coisa ruim no corpo, essa cara amassada e essa dor na alma. Ontem ela veio mansa, mas hoje desabrochou com toda a sua força. Não há escudo que nos impeça da decepção. Mas lutamos todo dia esperando que o amanhã melhore. Vejo alguma luz no olhar daquela pessoa que acorda todo o dia pronto para ser chutado de novo, e de novo, e de novo. E assim até que o fim chegue, porque a espera é sem sentido quando 0 destino é algo do qual não podemos nos esconder. Ganharemos todas as batalhas e mesmo assim perderemos a guerra. A derrota é algo inevitável em nossa vida pseudo-divertida-culta-louca-cheia-de-porres-e-amores-que-acabam-depois-da-primeira-chupada. Eu levanto quando abro os olhos, não importa se seja cinco da manhã ou três da tarde, um banho gelado e sei que é tarde demais pra desistir.

Friday, January 19, 2007

A Real

Há sempre uma casa mal acabada quando eu chego aqui. Nesse ano há pessoas morando nela e as únicas boas tardes que me restavam já não me restam. E o vento refrescante que contrasta com as tardes insuportavelmente quentes não me importa mais. Os rostos familiares que aparecem em cada esquina dessa pequena quadra não me fazem sentir-me em casa. Em cada santo quebrado uma história maligna de demônios, padres e crianças traquinas para contar, às vezes uma igreja guarda lembranças de uma inocência que já não existe.
Eu sempre demoro pra me acostumar em beber nesses copos, deitar no sofá pequeno e cochilar em um colchão menos macio que o lá de casa; mesmo fazendo tanto tempo, eu nunca me acostumei com as crianças que chutam bola no gramado dos fundos, elas são sempre as mesmas e há sempre um cachorro preto e pequeno e engraçado que brinca junto de esconde-esconde, mas ele nunca fecha. Sabe aquela história de café com leite? Eu nunca fui. Na minha época havia um clube e todo o ano eu era a líder, escolhida por voto democrático e sem manipulação. O que eu lidero agora? Eu ainda tenho a capacidade de levar as pessoas numa mesma direção?
Cortaram aquela árvore inclinada onde havia um balanço e só três anos depois isso me faz falta. Falta de ouvir as pessoas gritando pra que eu não subisse tão alto. Faz tempo que eu não entro no mar até a água bater no pescoço. Não é medo. Eu juro. Os dinossauros são tão grandes, ferozes e reais quando se tem nove anos e agora toda a magia foi quebrada porque sabemos mais do que devíamos. É difícil para a Cinderela quando chega à meia-noite. Toc toc toc. Há alguém batendo forte demais na porta da esperança. Há alguém aí? Todos os tesouros jamais serão encontrados.
Faz cinco anos que eu venho pra cá e fico triste. Talvez as ruas tenham ficado pequenas demais. Não há nada que me tire do quarto. Não há parque, não há amigos, não há novidades. O vento sopra sempre no mesmo horário e sentido e não há nada diferente que possa acontecer. Já compramos o oceano e as dunas e talvez hoje eu sinta falta de ter medo de morrer, porque só isso nos dá vontade de viver. É triste não ter segundas intenções.