Monday, October 23, 2006

Não me pergunte o que não quer saber


Você não sabe que eu não quero ser feliz ao seu lado. Você não sabe o quão difícil é para eu dizer isso á você. Nunca vou conseguir dizer a outro as palavras que machucaram a mim mesma. São difíceis as tardes em que penso em tudo como se o fim fosse amanhã. É tão tarde e tão cedo que os pássaros já cantam anunciando o fim e o começo. A cachorra chora por eu não a pegar no colo; nem sempre damos atenção à quem merece, você não sabia?
Você se torna o garoto perfeito para mim quando passa a me rejeitar. Não adiantou em nada você escrever textos, poesias e músicas. Finja que me despreza, mas não torne isso real. Em meio a tudo vejo na pracinha escura um grupo de meninas; elas experimentam drogas pela primeira vez. Não sabem, mas o destino de algumas foi traçado à primeira tragada. Suicídio, overdose, prisão. Até que ponto você vai sem se tornar junkie? Não adianta fugir, o primeiro passo foi dado, o resto é conseqüência.
Sinto saudades do tempo em que sentávamos no banheiro de uma rodoviária velha, fumando algum cigarro que você roubou da carteira do seu pai. Marcávamos o corpo com lâminas enferrujadas, roubadas do apontados de meu irmão. Podia elas nos transmitirem tétano? Morreríamos sozinhas. Ninguém iria se importar.
A verdade é que toda essa agonia melancólica é causada pelo simples fato de ele não agir. É muito velho para seu pai levantar todo sábado e ir lhe buscar de pijama, em um lugar aonde você não vai, nas esquinas perdidas de uma cidade que não se encontra no mapa. Ele é grande demais para contínuos interrogatórios e exigências. Não há nada à perder e mesmo assim ele tem medo. Estátuas são mais felizes. Ele era um garoto de quinze, com todos os problemas que irá achar bobagem quando fizer dezesseis; talvez estivesse perdido em algum beco, onde os ratos têm nojo de entrar. Se esconder pra quê, se ninguém vai lhe procurar? Seria triste, mas já é rotina.
A festa já vai começar. Escuto risadas, mas eles não estão felizes. São vinte e três horas. O telefone toca, o menino se jogou do sexto andar, não deixou carta dizendo o porquê; pode ser que ele não soubesse. O motivo é cada vez menor. Ele tinha apenas dezesseis e se esperasse até os dezessete seus motivos já seriam besteira.

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