Saturday, March 17, 2007

Eu sempre vou ser a menina gorda e sardenta apaixonada pelo garoto popular da escola. Por mais que eu emagreça, que a base disfarce o pior e que eu pise em cima de qualquer indício de testosterona por perto, eu sei que eles ainda me olham assim.
É sábado de noite e eu sempre perco os melhores shows da minha vida. Essa cidade diminui à medida que enche folhas do meu diário. Eu queria um caderno novo, com páginas em branco, pra escrever uma história bonita e emocionante, igual aquela que eu imagino sempre antes de dormir. Mas faz tempo que não neva por aqui e cada dia há menos coisas para se contar, e há cada semana são mais folhas em branco.

Hoje é só um sábado meio chuvoso, meio frio, meio perfeito. Eu deveria sair correndo daqui e tentar um ingresso VIP em algum barzinho novo. Mas eu sempre esqueço que aqui é Lajeado, e que não há novidades em Lajeado, e que não há ingressos vip em Lajeado. Aqui as pessoas se vestem com a mesma roupa e tem o mesmo corte de cabelo desde que eu nasci. Chove desde que eu nasci. Você nunca mais falou comigo depois que eu nasci.

Meu amigo gay espera por um telefonema que eu não posso dar. Chove. Não há ninguém em casa além de mim. Não há ninguém em casa. A gente precisa de meia caixa de comprimidos pra depois acordar e ver que loucura é a realidade. Loucura é acordar todo o dia numa cidade decadente e idolatrá-la. Loucura é trabalhar por menos de dois mil reais por mês. É aturar você falando sempre que eu sou melhor, me ignorando, me chamando de volta. Eu sempre volto, aliás, eu adoro quando você me manda ir embora, porque eu sei que você sempre me pede pra voltar. E é sempre em março que faz um mês que eu ti beijei e você não lembra. Lá fora chove.

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