Saturday, March 24, 2007

destruir tudo o que você tocar

Começa mais uma vez o ritual sagrado. Ela senta com a garrafinha de água cheia, pouco tempo pra não fazer nada e no media player é sempre a mesma música que toca.

Às vezes ela levanta mais cedo do que o já cedo horário rotineiro, porque ela acha que é bom mudar um pouco. Às vezes ela só precisa de um pequeno empurrão, mas é costume já que ela receba um tranque. E é sempre a mesma música que toca quando ela, eufórica, grita. E sempre é quente quando ela fica feia e demente.

Confusão é pouco pra quem tem apenas dezessete anos. Ela tem a mania de escrever a idade em seus textos e por isso morre de medo de chegar aos trinta. Todos irão saber, é inevitável. E ela se mata estudando pra no outro dia afogar tudo o que existe em tortinhas de chocolate e pinga. Nunca é tarde pra parar.

Ela só acha idiotice chamar o trabalho das prostitutas de indigno. Indigno é acordar todos os dias antes do galo pra no final do mês ganhar trezentos reias e passar fome. Digno é passar fome pra ser magra e ganhar muito dinheiro transando com homens casados que só bebem whisky importado e freqüentam o Iate Club. Na cidade dela não tem Iate Club, mas pouco importa. Ela acha digno trabalhar e no final do mês fazer compras na Gucci e na D&C. Mesmo que esteja em promoção.

Quando a música termina ela publica.

1 comment:

Anonymous said...

acho que sou indigna, pois trabalho e no final do mês ganho os ditos 300 reais. na verdade nem isso. digno é não trabalhar e gastar o dinheirinho dos papais? pq alguém aqui nessa história tem que trabalhar. acho que disso, pelo menos, sou um pouquinho independente, agora. mas enfim, ninguém tem culpa de viver aqui nesse país.

lindos seus textos, como sempre.