Wednesday, December 27, 2006

Não há

Hoje eu não quero comer. Só quero um líquido bem gelado, talvez um suco, talvez um refrigerante ou até mesmo uma água com gelo e limão; pra que eu possa refrescar todo esse calor aqui dentro. Porque o verão está insuportável e hoje você vai embora e eu vou ficar aqui, e tudo isso junto não me dá apetite. E eu sei que a guerra vai estourar e também sei que não vou assinar nenhum tratado de paz, por isso eu acho melhor que essa semana passe rápido, pra que sua ausência já seja um fato consumado, não mais possível de se evitar.
E há fumaça por todos os cantos. E eu não posso sair daqui. Me chingam pelo fedor da fumaça, mas não querem que eu vá embora. Me seguram aqui pra que eu não apodreça e terminam por assinar meu atestado de óbito. Não há mais nada pra fazer. Vida medíocre. Fui criada pra apodrecer numa cidade onde não há como ser legal, porque você consegue drogas em qualquer esquina e porque não há gente legal; lhe colocam nessa cidade e lhe mandam crescer e perder essa cabeça de cinco anos, é, de cinco anos, você tem dezesseis, mas a sua cabeça ainda é de cinco; e eu estou ficando meio louca com tudo isso e ainda me dizem que eu não tenho cabeça para sair daqui (???).
A última luz foi apagada. Nenhuma música toca em nenhum aparelho de som. Todas as televisoes estão queimadas porque ontem teve tempôral. Há poeira em todo pé que caminha descalço e sem medo de pisar em pedras pontudas.

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